Por que os protestantes não acreditam na santidade?


Jesus disse: “Portanto, sede santos, assim como vosso Pai celeste é santo” (1 Pedro 1,15-16). "Sereis santos porque Eu sou Santo" (Levítico 1,44-45).  Por que Lutero, o criador do protestantismo não acreditava em Santidade e ensinou isso a seus adeptos? Tem Santidade na Bíblia? Deus pede isso nós ou nos salvamos sem Santidade?

 Jesus disse: “Portanto, sede santos, assim como vosso Pai celeste é santo”

(1 Pedro 1,15-16).

"Sereis santos porque Eu sou Santo"

(Levítico 1,44-45).

“Eis que agora Ele vos reconciliou pela morte de seu corpo humano, para que vos possais apresentar santos, imaculados, irrepreensíveis aos olhos do Pai”

(Colossenses 1,22).

  Por que Lutero, o criador do protestantismo não acreditava em Santidade e ensinou isso a seus adeptos? Tem Santidade na Bíblia? Deus pede isso nós ou nos salvamos sem Santidade?

Martinho Lutero negava a possibilidade de o homem ser santo porque não havia adentrado em seu "Castelo Interior". Somente os verdadeiros místicos podem compreender a alma humana.

A antropologia protestante, diferentemente da católica, não crê que o homem possa ser santo. E isso se deve a uma discordância substancial nessas duas concepções. Esse confronto, por sua vez, pode ser resumido nas ideias de dois autores: Santa Teresa d"Ávila e Martinho Lutero, ambos do século 16. Em sua obra Castelo Interior , em que se apresenta ao leitor uma comparação da alma humana com um castelo ou, para usar uma expressão do livro, sete moradas, Santa Teresa afirma que, no centro do coração do homem - a sétima morada, por assim dizer -, habita a Santíssima Trindade, cujo brilho de sua luz só é encoberto pelo pecado. A fraqueza humana, escreve Santa Teresa, seria como que um véu a acobertar a grandeza da alma. Martinho Lutero, por outro lado, desenvolve um pensamento mais pessimista. No seu comentário à Carta de São Paulo aos Gálatas, ele descreve o homem como um pecador empedernido. A natureza humana, portanto, seria corrupta até o seu cerne, tendo a fé o papel de justificá-la perante Deus. Resta-nos, então, duas realidades extremamente opostas. A primeira considera o gênero humano como sendo bom e precioso aos olhos de Deus; já a segunda tem para si o homem como um ser ruim, em cuja fé encontra-se a única maneira de justificar-se diante de Deus.

O ensinamento de Santa Teresa encontra eco em toda a Tradição Católica, embora também seja originário de suas próprias experiências místicas. O livro Castelo Interior, escrito por volta de seus 60 anos de idade, pode ser considerado a grande obra-prima da santa, mormente por apresentar importantes reflexões sobre a realidade da alma humana. Teresa a considera como uma jóia preciosa, e faz isso por dois motivos bem específicos: primeiro, porque o ser humano foi criado “à imagem e semelhança" de Deus; segundo, porque nosso interior seria como que o jardim das delícias de Deus. Ao comentar um trecho do livro de Provérbios, Santa Tereza explica que Deus gosta de habitar na alma dos justos e que, por isso, a Santíssima Trindade faz de nosso coração a sua morada predileta (Cf. 8, 31). Quando pecamos, no entanto, colocamo-nos alheios ao nosso coração, diz Santa Teresa. O castelo - que seria a nossa alma - fica vazio, uma vez que o nosso pecado nos expulsa de nós mesmos. Ocorre uma alienação, o homem perde sua própria identidade, indo morar no fosso do castelo, morada de animais peçonhentos e traiçoeiros - isto é, as nossas más inclinações. Com efeito, para que possamos adentrar ao castelo e atingir a sétima morada, temos de rezar, o que, na linguagem da santa de Ávila, significa relacionar-se amorosamente com Deus.

A filósofa e irmã carmelita Edith Stein, canonizada em 1998 pelo Papa João Paulo II, como Santa Teresa Benedita da Cruz, certa vez se questionou sobre os escritos de Teresa d"Ávila, argumentando se seria possível que os psicólogos não tivessem acesso à própria alma. Edith Stein não conseguia compreender o raciocínio de Santa Teresa, uma vez que a psicologia tinha justamente o papel de conhecer a alma humana. Até que, finalmente, a futura irmã carmelita compreendeu que, de fato, somente por meio da oração podemos alcançar o conhecimento de nossa identidade. A psicologia não tem condições de compreender todo o mistério da humanidade, pois sua profundidade, embora apresente importantes contribuições para a ciência, não chega à medula do homem. Fica-se somente no fosso do castelo. E esse é o erro tanto da psicanálise quanto da teologia luterana[1]. Se fosse verdadeiramente um místico, Martinho Lutero teria entrado em contato com a profundeza de sua alma, teria compreendido o sol que erradia do Deus que habita nela, teria descoberto a Santíssima Trindade.

O erro fatal da antropologia de Lutero é não reconhecer que o homem é capaz de amar a Deus, de participar deste mistério. A teologia luterana alcança somente uma parte do nosso ser. E, desprovida da profundidade da mística dos santos, enxerga-o de maneira inexata. Os santos como Santa Teresa d"Ávila, por sua vez, compreendem o íntimo de nosso ser, pois sabem que o que nos afasta de Deus não nos determina. A nossa identidade é precisamente outra. É aquela que se encontra em nosso âmago, no mais profundo da nossa alma: Deus, a Família Trinitária. Os pecados são os animais que tentam nos manter fora do castelo, nas primeiras moradas, impedindo-nos de corresponder à nossa vocação última: a santidade. Lembra-nos o Concílio Vaticano II: “Todos os cristãos são, pois, chamados e obrigados a tender à santidade e perfeição do próprio estado."[2]

E para que essa perfeita santidade se torne realidade em nossas vidas, é preciso entrar no castelo.

 

 

Desde a Antiga Aliança, realizada por meio dos Patriarcas, Deus chama o povo à santidade: ‘Eu sou o Senhor que vos tirou do Egito para ser o vosso Deus. Sereis santos porque Eu sou Santo’ (Lv 1,44-45).

O desígnio de Deus é claro: uma vez que fomos criados à sua “imagem e semelhança” (Gen 1,26), e Ele é Santo, nós temos que ser santos também. O Senhor não deixa por menos. A medida, a essência dessa santidade é o próprio Deus. São Pedro repete essa ordem dada ao povo no deserto, em sua primeira carta, convocando os cristãos para imitarem a santidade de Deus: “A exemplo da santidade daquele que vos chamou, sede também vós santos, em todas as vossas ações, pois está escrito: ‘Sede santos, porque eu sou santo"” (1Pe 1,15-16).

2 Coríntios 7, 1
“Ora, amados, pois que temos tais promessas, purifiquemo-nos de toda imundícia da carne e do espírito, aperfeiçoando a santificação no temor de Deus.”
 
1 Pedro 1, 15
“Mas, assim como é santo aquele que os chamou, sejam santos vocês também em tudo o que fizerem.”
 
Hebreus 12,14
“Segui a paz com todos e a santificação, sem a qual ninguém verá o Senhor.”
 
Filipenses 2:14-16
“Fazei todas as coisas sem murmurações nem contendas; para que sejais irrepreensíveis e sinceros, filhos de Deus inculpáveis no meio duma geração corrompida e perversa, entre a qual resplandeceis como astros no mundo; retendo a palavra da vida.”
 
João 17,17
“Santifica-os na verdade; a tua palavra é a verdade.”
 
Levítico 19, 2
“Diga o seguinte a toda comunidade de Israel: Sejam santos porque eu, o Senhor, o Deus de vocês, sou santo.”
 
Provérbios 9,10
“O temor do Senhor é o princípio da sabedoria,
e a ciência do Santo, a prudência.”
 
2 Coríntios 7,1
“Amados, visto que temos essas promessas, purifiquemo-nos de tudo o que contamina o corpo e o espírito, aperfeiçoando a santidade no temor de Deus.”
 
1 Coríntios 3,16
“Não sabeis vós que sois o templo de Deus e que o Espírito de Deus habita em vós?”
 
Mateus 5,48
“Sede vós, pois, perfeitos, como é perfeito o vosso Pai

São Pedro exige dos fieis que “todas as vossas ações” espelhem esta santidade de Deus, já que “vós sois uma raça escolhida, um sacerdócio régio, uma nação santa, um povo adquirido para Deus, a fim de que publiqueis o poder daquele que das trevas vos chamou à sua luz maravilhosa” (1Pe 2,9). Para São Pedro, a vida de santidade era uma imediata consequência de um povo que ele chamava de “quais outras pedras vivas(…) materiais deste edifício espiritual, um sacerdócio santo” (1Pe 2,5).

O cristão é chamado a viver a santidade

Neste sentido, exortava os cristãos do seu tempo a romper com a vida carnal: “Luxúrias, concupiscências, embriagues, orgias, bebedeiras e criminosas idolatrias” (1Pe 4,3), vivendo na caridade, já que essa “cobre a multidão dos pecados” (1Pe 4,8).

Jesus, no Sermão da Montanha, chama os discípulos à perfeição do Pai: “Sede perfeitos assim como o vosso Pai celeste é perfeito” (Mt 5,48). Essas palavras fazem eco ao que Deus já tinha ordenado ao povo no deserto: “Sede santos, porque eu sou santo” (Lv 11,44). Jesus falava da bondade do Pai, que ama não só os bons, mas também os maus, e que “faz nascer o sol tanto sobre os maus como sobre os bons, e faz chover sobre os justos e sobre os injustos” (Mt 5,45). Jesus pergunta aos discípulos: “Se amais somente os que vos amam, que recompensa tereis?”(46). Para o Senhor, ser perfeito como o Pai celeste é amar também os inimigos, os que não nos amam; “Amai os vossos inimigos, fazei bem aos que vos odeiam, orai pelos que vos perseguem e vos maltratam”(44). E mais ainda: “Não resistais ao mau. Se alguém te ferir a face direita, oferece-lhe também a outra”(39).

Sem dúvida não é fácil viver essa grande exigência que Jesus nos faz, mas é por isso mesmo que, ao cumpri-la, vamos nos tornando santos, perfeitos, assim como o Pai celeste.

O caminho de santidade não é fácil

Todo o Sermão da Montanha, que São Mateus relata nos capítulos 5, 6 e 7, apresenta-nos o verdadeiro código da santidade. É como dizem os teólogos, a “Constituição do Reino de Deus”. Santo Agostinho nos assegura que: “Aquele que quiser meditar com piedade e perspicácia o Sermão que nosso Senhor pronunciou no Monte, tal como o lemos no Evangelho de São Mateus, aí encontrará, sem sombra de dúvida, a carta magna da vida cristã” (CIC, Nº 1966). Por isso, a festa de todos os santos a Igreja nos faz ler no Evangelho as Bem aventuranças, que são o início, e como que o resumo, de todo o Sermão do Monte.

É importante perceber que São Paulo começa quase todas as suas cartas lembrando os cristãos do seu tempo de que são chamados à santidade. Aos romanos, logo no início, ele se dirige dizendo: “a todos os que estão em Roma, queridos de Deus, chamados a serem santos” (Rom 1,7). Aos coríntios, ele repete: “à Igreja de Deus que está em Corinto, aos fiéis santificados em Cristo Jesus chamados à santidade com todos” (1Cor 1,2). Aos efésios, ele lembra, logo no início, que o Pai nos escolheu em Cristo “antes da criação do mundo para sermos santos e irrepreensíveis diante de seus olhos” (Ef 1,5). Aos filipenses, ele pede que: “o discernimento das coisas úteis vos torne puros e irrepreensíveis para o dia de Cristo” (Fil 1,10).

“Fazei todas as coisas sem hesitações e murmurações, a fim de serdes irrepreensíveis e sinceros, filhos de Deus íntegros no meio de uma geração má e perversa” (Fil 2,14) .

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Para o Apóstolo, a santidade é a grande vocação do cristão. Ele diz aos efésios: “Exorto-vos pois (…) que leveis uma vida digna da vocação a qual fostes chamados, com toda humildade, mansidão e paciência” (Ef 4,1). De maneira mais clara ainda, ele fala aos tessalonicenses sobre o que Deus quer de nós: “Esta é a vontade de Deus: a vossa santificação; que eviteis a impureza; que cada um de vós saiba possuir o seu corpo em santificação e honestidade, sem se deixar levar pelas paixões desregradas como fazem os pagãos que não conhecem a Deus” (1 Tess 4,3-5).

Aos cristãos de Corinto, Paulo volta a insistir na sua segunda carta: “Purifiquemo-nos de toda a imundice da carne e do espírito realizando a obra de nossa santificação no temor de Deus” (2 Cor 7,1). Para o Apóstolo, a santificação de cada um é como a realização de uma obra muito importante.

E também a carta aos Hebreus, escrita por São Paulo ou algum dos seus discípulos, nos manda procurar a santidade: “Procurai a paz com todos e, ao mesmo tempo, a santidade, sem a qual ninguém pode ver o Senhor” (Heb 12,14).

Todas essas passagens da Sagrada Escritura, e muitas outras, deixam claro a nossa vocação para uma vida de santidade. Santa Teresa de Ávila afirma que: “O demônio faz tudo para nos parecer um orgulho o querer imitar os santos”. A santidade ainda não é um fim, mas o meio de voltarmos a ser “imagem e semelhança” de Deus, conforme saímos de suas mãos.

A imagem e semelhança de Deus

São Paulo ensina, na carta aos romanos, que Deus nos quer como autênticas imagens de Jesus: “Os que ele distinguiu de antemão , também os predestinou para serem conformes à imagem de seu Filho, a fim de que este seja o primogênito entre uma multidão de irmãos” (Rom 8,29).

A santificação, portanto, consiste em cada cristão se transformar numa cópia viva de Jesus, “um outro cristo” como diziam os santos Padres. Quando a imagem de Jesus estiver formada em nossa alma, então, teremos chegado à meta que Deus nos propõe. É aquele estado de vida que levou, por exemplo, São Paulo a exclamar: “Eu vivo, mas já não sou mais eu, é Cristo que vive em mim. A minha vida presente, na carne, eu a vivo na fé no Filho de Deus” (Gal 2,20).

Jesus sofreu toda a sua Paixão e Morte, a fim de que recuperássemos, diante do Pai, a santidade. É o que o apóstolo nos ensina: “Eis que agora Ele vos reconciliou pela morte de seu corpo humano, para que vos possais apresentar santos, imaculados, irrepreensíveis aos olhos do Pai”(Col 1,22).

Referências

 

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