Os sacerdotes fazem parte do cristianismo desde o início, e suas raízes estão já no Antigo Testamento. Nos povos antigos, o sacerdote era aquele que oferecia vítimas à divindade que cultuavam. Sua posição era sempre elevada, pois cabia a ele cuidar das cerimônias sagradas. Em geral, a expiação dos pecados através do oferecimento de vítimas, oblações.
Na Bíblia existem inúmeras referências ao sacerdócio, tanto no Antigo quanto no Novo Testamento, o que acaba fazendo com que muita gente fique em dúvida sobre o que é um sacerdote e qual o seu significado.
Nos textos bíblicos, a grande ênfase é dada ao serviço sacerdotal hebreu, isto é, aos sacerdotes do povo de Israel dentro da religião judaica, no entanto o conceito de sacerdote ou algo similar existe em praticamente todas as religiões que objetivam um relacionamento entre o homem e alguma divindade.
Antes de o sacerdócio hebraico ser instituído oficialmente, a Bíblia menciona outros sacerdotes, como:
O rei Melquisedeque, sacerdote do Deus Altíssimo (Gn 14, 18);
Os sacerdotes que havia no Egito (Gn 41, 45; 46, 20; 47, 22-26);
Os sacerdotes midianitas (Êx 2, 16; 3, 1; 18, 1).
Além disso, as funções sacerdotais são mencionadas na Bíblia desde os tempos da primeira família, com Caim e Abel oferecendo ofertas a Deus. No período patriarcal, podemos notar que as funções sacerdotais também eram desempenhadas pelos chefes de família, como por exemplo, no caso de Noé após o Dilúvio (Gn 8, 20,21), com o patriarca Abraão que levantou altares ao Senhor em Betel, Manre e Moriá, e com Jó que oferecia sacrifícios a Deus (Jó 1, 5).
Mesmo depois da instituição oficial do sacerdócio hebreu, a Bíblia menciona pessoas que, em ocasiões específicas, exercerão alguma atividade comum aos sacerdotes, como por exemplo, Gideão (Jz 6, 24-26), o profeta Samuel (1Sm 7, 9), o rei Davi (2Sm 6, 13-17) e o profeta Elias (1Rs 18, 23-38).
Um dos termos mais distintivos usados na Igreja Católica (embora às vezes usado por outras denominações) é a palavra “sacerdote”. É o termo mais comum usado para identificar um membro ordenado do clero e tem uma rica história no cristianismo.
Em inglês, a palavra “padre” – “priest” – é derivada do grego “presbyteros”, que significa “ancião”. O termo é usado em todo o Velho e Novo Testamentos para identificar um indivíduo que oferece um sacrifício a Deus.
O primeiro uso do termo está no livro de Gênesis, para identificar o misterioso Melquisedeque, que aparece do nada em um encontro com Abraão.
Melquisedeque, rei de Salém e sacerdote do Deus Altíssimo, mandou trazer pão e vinho, e abençoou Abrão, dizendo: “Bendito seja Abrão pelo Deus Altíssimo, que criou o céu e terra! Bendito seja o Deus Altíssimo, que entregou os teus inimigos em tuas mãos!” E Abrão deu-lhe o dízimo de tudo. (Gênesis 14, 18-20)
Mais tarde, desenvolve-se um sacerdócio levítico sob Moisés, que é mantido por vários séculos em um sacerdócio associado ao Templo Judaico. É dever do sacerdote judaico oferecer sacrifícios a Deus em nome do povo.
a terminologia da palavra, que vem do aramaico antigo, que significa “mediação entre o povo e Deus”.
Devemos nos lembrar que a função sacerdotal apareceu em Gênesis 14, 18-20, em que Melquisedeque, sacerdote do Altíssimo, abençoou Abrão. Foi também, nessa passagem, que vimos a entrega do primeiro dízimo.
Depois disso, começa com Moisés outro modelo de sacerdócio. Foi através do sacerdócio levítico que homens foram separados para oferecer sacrifícios para Deus, a fim de tirar os pecados do povo.
A seguir, veremos com mais profundidade, a respeito do significado de Padre na Bíblia.
No Antigo Testamento, os sacerdotes realizavam as atividades religiosas em nome do povo. Eles ofereciam sacrifícios, liam as leis e cuidavam da adoração do templo.
No Novo Testamento, os discípulos de Cristo assumiram esse papel. Eles são responsáveis por ensinar sobre Deus, orientar as pessoas na fé e ajudá-las a desenvolver uma vida dedicada a Deus.
Na igreja católica, há um entendimento de que o padre é uma pessoa separada para se dedicar integralmente à obra de Deus. Partindo para esse entendimento, o matrimônio foi proibido pela igreja católica à partir do Primeiro Concílio de Latrão em 1123. Por isso, o celibato para o padre ocidental passou a ser obrigatório.
O sacerdote na Antiga Aliança
Não só entre os povos pagãos, mas assim também o era entre o povo de Deus da Antiga Aliança. Seu principal encargo era a apresentação da vítima, do holocausto, a Deus através do seu sacrifício. É comum a menção ao “Sangue da Vítima”. 1
Ainda, relata-se a existência de três graus de sacerdócio no Antigo Testamento:
1. Sumo Sacerdote
Exercido por aquele que era o chefe dos sacerdotes, sendo o mais alto grau. Aarão ocupava esse papel 2. Trata-se do responsável pelo oculto.
2. Sacerdócio ministerial
Em um grau menor estavam os filhos de Aarão e os levitas, 3 que auxiliavam no serviço religioso, no culto.
3. Sacerdócio comum
O último grau era exercido por todo o Povo de Deus. Nesse sentido, os judeus eram um povo de sacerdotes. 4
Os sacerdotes hebreus
O sacerdócio hebreu foi oficialmente ordenado no tempo de Moisés, com Arão e seus filhos (Nadabe, Abiú, Eleazar e Itamar) sendo consagrados como sacerdotes por Moisés de acordo com a ordem divina. A cerimônia solene da consagração de Arão e seus filhos foi repleta de detalhes e bastante significativa, durando sete dias (Êx 29, 1-37; cf. Lv 8).
Dos quatro filhos de Arão, apenas dois sobreviveram, Eleazar e Itamar, e, portanto, a linhagem sacerdotal de Arão ficou preservada nos descendentes de ambos (Lv 10, 1,2; Nm 3, 4; 1Cr 24, 2). No entanto, para ser um sacerdote não bastava apenas ser descente legítimo de Arão, pois algumas limitações tanto de ordem física, como deficiências, quanto de ordem cerimonial, como impurezas, impediam que alguns indivíduos exercessem o sacerdócio (Lv 21). Além disso, houve muitos casos complicados em que pessoas não conseguiram comprovar pertencer à genealogia da família de Arão.
Como os sacerdotes não recebiam nenhuma parte na distribuição de terras na Palestina, seu sustendo dependia de partes dos sacrifícios, das ofertas oferecidas pelo povo e dos dízimos (Nm 18, 3-32; cf. Êx 13, 12,13; Lv 2, 3-10; 5, 13; 7, 30-34; 24:5-9;). No entanto, posteriormente, especialmente no período da monarquia em Israel, os sacerdotes até podiam adquirir propriedades particulares (1Rs 2:26; Jr 32:6-8; Am 7:17).
O sumo sacerdote e a organização do sacerdócio
Ficava responsável pelo serviço religioso no Antigo Testamento, os sacerdotes, o sumo sacerdote e os levitas. Os levitas formavam uma classe subordinada aos sacerdotes, e executavam uma série de funções relacionadas à adoração e ao cuidado com o santuário.
Já o sumo sacerdote era um tipo de chefe dos sacerdotes. Na ocasião da consagração da família de Arão, o próprio Arão ocupou esse posto. Somente o sumo sacerdote podia entrar no Santo dos Santos, e apenas no Dia da Expiação, uma cerimônia que acontecia uma vez por ano.
As vestes sacerdotais
Os sacerdotes vestiam basicamente calções, uma túnica ou manto, utilizavam um cinto ou faixa, e na cabeça, usavam um gorro ou tiara que servia de adorno (Êx 28,40,42).
Já a veste do sumo sacerdote era diferenciada, e representava a santidade e o próprio sacerdócio (Êx 28, 2,4; 29, 29; 31, 10; etc.). Assim, a vestimenta do sumo sacerdote incluía: calções ou calças de linho, uma primeira túnica, um cinto feito com uma longa tira de linho bordado, a túnica do éfode de material tecido de cor azul onde em sua barra ficavam sinos de ouro, outra túnica composta por dois aventais, um peitoral contendo 12 pedras preciosas de diferentes espécies que representavam as 12 tribos de Israel, junto ao peitoral também havia o Urim e o Tumim que são de natureza desconhecida, o gorro ou tiara de linho e a mitra que continha uma lâmina de ouro onde estava gravada a frase “Santidade ao Senhor” (Êx 28).
O sacerdote na Nova Aliança
Há uma relação íntima entre o sacerdócio da Antiga e da Nova Aliança. O sacerdócio no Antigo Testamento era uma prefiguração, ainda imperfeita, do que viria no Novo. Era uma sombra dos bens futuros e não sua expressão real. 5
Cristo eleva o sacrifício, o templo e o sacerdócio à mais alta dignidade. O sacrifício de animais é cessado, substituído e elevado pelo sacrifício de Cristo na Cruz — e no altar.
“Não quiseste sacrifício nem oblação, mas me formaste um corpo.” 6
De forma misteriosa, pela oferta de si mesmo, Nosso Senhor torna-se sacerdote e vítima. E, por isso, ocupa o mais alto grau do sacerdócio e é chamado sumo sacerdote da Nova Aliança. 7
E aqueles a quem Cristo escolheu pessoalmente como Apóstolos, receberam na última ceia o dom do sacerdócio ministerial. Por isso, na Missa da quinta-feira santa, recordando a última ceia, celebra-se a instituição do sacerdócio.
Assim como os sacerdotes da Antiga Aliança auxiliavam no culto e no templo para a realização do sacrifício, os sacerdotes da Nova Aliança receberam de Cristo a missão de renovar na Santa Missa seu sacrifício na Cruz, “Fazei isto em memória de mim.” 8
Jesus tornou-se conhecido entre os cristãos como o supremo sacerdote, Aquele que ofereceu sua própria vida como sacrifício puro, substituindo o antigo sacerdócio por um novo sacerdócio.
Porém, já veio Cristo, Sumo Sacerdote dos bens vindouros. E através de um tabernáculo mais excelente e mais perfeito, não construído por mãos humanas (isto é, não deste mundo), sem levar consigo o sangue de carneiros ou novilhos, mas com seu próprio sangue, entrou de uma vez por todas no santuário, adquirindo-nos uma redenção eterna; (Hebreus 9, 11-12)
Seu sacerdócio também está ligado ao de Melquisedeque, como a Bíblia menciona: “onde Jesus entrou por nós como precursor, Pontífice eterno, segundo a ordem de Melquisedeque” (Hebreus 6, 20).
Isso conecta o sacrifício de Jesus de seu Corpo com a oferta do pão e do vinho na Última Ceia, inaugurando um novo sacerdócio. As cartas do Novo Testamento referem-se constantemente a esse sacerdócio, explicando como “presbíteros” são designados para várias comunidades cristãs.
Em cada igreja instituíram anciãos e, após orações com jejuns, encomendaram-nos ao Senhor, em quem tinham confiado. (Atos 14, 23)
Os sacerdotes católicos seguem nessa linha, oferecendo o sacrifício da missa que está espiritualmente ligado ao sacrifício de Jesus no altar da cruz. A vida de um sacerdote é em si um sacrifício, não apenas no contexto da missa, mas também em seu estilo de vida. Jesus chama cada sacerdote a seguir os seus passos: “se alguém quiser vir comigo, renuncie-se a si mesmo, tome sua cruz e siga-me.” (Mateus 16, 24).
Deste modo, até os leigos são chamados a um tipo de sacerdócio, como explica o Catecismo da Igreja Católica: “A Igreja é, na sua totalidade, um povo sacerdotal. Graças ao Batismo, todos os fiéis participam no sacerdócio de Cristo. Esta participação chama-se «sacerdócio comum dos fiéis»” (CIC 1591). Este sacerdócio comum dos “se realiza no desenvolvimento da vida batismal – vida de fé, esperança e caridade, vida segundo o Espírito” (CIC 1547).
Embora nem todos sejam chamados ao sacerdócio ministerial, todos os católicos batizados são chamados a oferecer suas vidas diariamente como sacrifício a Deus.
Ser padre implica sacrifício, e essa definição sempre mostrou-se verdadeira ao longo da história.
Resta ainda o último grau, o sacerdócio comum. Na Nova Aliança, ele é conferido àqueles que receberam o Sacramento do Batismo. Todos os batizados participam do sacerdócio único de Cristo à sua medida.
O leigo une-se a Cristo pela fé e caridade em união espiritual e não pelo poder sacramental. 9
Sua união se dá pelo sacrifício de si mesmo: Eu vos exorto, pois, irmãos, pelas misericórdias de Deus, a oferecerdes vossos corpos em sacrifício vivo, santo, agradável a Deus: é este o vosso culto. 10
Meu sacrifício, ó Senhor, é um espírito contrito. 11
“E quais outras pedras vivas, vós também vos tornais os materiais deste edifício espiritual, um sacerdócio santo, para oferecer vítimas espirituais, agradáveis a Deus, por Jesus Cristo.” 12
Mas é válido chamar a atenção ao sacerdócio ministerial — e aos padres, em especial — cuja presença e relevância não recebem seu devido valor.
Como seria o mundo sem os padres?
Essa é uma pergunta que todo fiel, em especial leigo, deve fazer. E a resposta fica bem clara nas palavras de São João Maria Vianney, padroeiro dos sacerdotes:
“Se não tivéssemos o sacramento da Ordem, não teríamos Nosso Senhor. Quem o colocou no tabernáculo? O padre. Quem foi que recebeu nossa alma à entrada da vida? O padre. Quem a alimenta para lhe dar força de fazer sua peregrinação? O padre.”
Chamar o sacerdote de padre (pai) contraria a Bíblia?
O título “Papa”, atribuído ao Sucessor de S. Pedro, pode ser traduzido por "pai". O termo “padre”, tão comumente atribuído aos presbíteros, de origem latina, também significa "pai". Estaria então a Igreja, na prática, desobedecendo a um preceito dado diretamente por Jesus Cristo, constante no Evangelho segundo S. Mateus (23,9), de não chamar a ninguém sobre a terra de pai? É o que veremos.
Um primeiro fato, que precisamos sempre manter em mente, é que o Evangelho nunca poderá ser reduzido à letra, isto é, às interpretações literais e isoladas de determinados versículos, porque "a letra mata, mas o Espírito vivifica" (2Cor 3,6). É extremamente perigoso tomar uma palavra ou frase de Jesus e procurar compreendê-la fora de seu contexto próprio e de sua real intenção. Quem tenta fazê-lo, quase sempre, erra e trai a Vontade do Senhor. A Escritura somente pode ser compreendida no mesmo Espírito na qual foi escrita, e esse Espírito é Dom de Deus à sua Igreja. – É sumamente importante esta adesão de fé, esta atitude de fundo, porque sem ela as Sagradas Escrituras tornam-se pura fonte de erros, de confusão e de divisões sem fim.
Basta ver aonde a loucura do livre exame da Bíblia, apregoado por Lutero, levou o protestantismo: hoje são dezenas de milhares de seitas derivadas do movimento de protesto inicial, desde as mais radicais, imersas em fechamento e fanatismo fundamentalista, às mais liberais, que "casam" homossexuais e até os admitem como "pastores", "bispos" e "bispas". – Além disso, se a Bíblia afirma que é Deus nosso Pai maior, igualmente enfatiza que nosso "Pastor" é Jesus Cristo, conforme lemos no Evangelho segundo S. João (10, 12), e não homem algum. Se o questionamento quanto ao termo "padre" parte de um protestante/"evangélico", que tem a Bíblia como única regra de fé e prática, já começa descabido, pois aquele que acusa faz exatamente a mesma coisa, chamando seu orientador espiritual de "pastor".
Dito isso, vamos à questão propriamente posta. – Nosso Senhor afirma que não devemos tratar a ninguém por pai no contexto de uma polêmica com escribas e fariseus, que se pretendiam detentores da dignidade e da autoridade de pais espirituais da comunidade judaica, assumindo assim o privilégio da Promessa divina feita a Abraão. Longe de querer ensinar que seria pecado chamar, por exemplo, ao nosso progenitor de pai, o Cristo claramente diz que a Paternidade suprema, em sentido absoluto, – o Princípio e o Modelo perfeito de toda paternidade, – brota do Criador de todas as coisas, seu e nosso Pai do Céu.
Ninguém poderia ser verdadeiramente pai, a não ser em referência ao Pai de Jesus, e mais uma vez as Sagradas Escrituras o confirmam, mais adiante: "Dele procede toda a paternidade no Céu e na Terra" (Ef 3,14). Qualquer um que se considere pai espiritual sem reconhecer Jesus como o Filho do Pai verdadeiro, pleno e perfeito, trai o sentido da paternidade e usurpa a Paternidade divina, deformando-a.
Adiante, são muitos os caminhos que poderíamos tomar para demonstrar que a passagem em questão não pode ser tomada literalmente, por exemplo, simplemente considerando o Mandamento Divino de honrar pai e mãe. É o próprio Deus Todo-Poderoso, diretamente, ordenando que honremos nossos pais segundo a carne. Seria honroso a algum pai que seu próprio filho se negasse a chamá-lo de "pai"? Ora, se não podemos chamar a absolutamente ninguém de pai a não ser Deus, é assim que deveria ser, e haveria uma insolúvel contradição na Bíblia. Seria este um bom começo, uma boa reflexão inicial. Avançaremos, entretanto, bem além daí.
Outros casos semelhantes nas Sagradas Escrituras
No estudo acadêmico, aprendemos que a linguagem bíblica é, frequentemente, superlativa, generalizante. É próprio da pedagogia dos autores sagrados, por exemplo, usar às vezes o termo "todos" para dizer "muitos"; "eternamente" para dizer "muito tempo"; "sem fim" para dizer "grande quantidade"; etc. Assim, encontramos na Bíblia diversos paralelos muito semelhantes a este caso da proibição de se chamar a qualquer pessoa humana de pai.
É exatamente o mesmo quando Jesus diz à pessoa que se dobra diante dele e o chama "bom mestre": “Por que me chamais bom? Ninguém é bom, a não ser somente um, que é Deus” (Mc 10,18).
Esta passagem deveria ser extremamente desconcertante para todo aquele que, ao mesmo tempo em que se pretende cristão, elege a Bíblia como única regra de fé. Ora, se formos interpretar o texto ao pé da letra, como na passagem de S. Mateus (23,9) que estamos examinando, teríamos que dizer que Jesus não é Deus, porque ele parece repreender quem o chama "bom", dizendo que somente Deus é bom. E Será que Jesus não é bom? Então, Ele não é Deus? Além disso, estaria também dizendo o Senhor que não existiu nem existe nenhuma pessoa humana neste mundo que pudéssemos chamar de bom ou boa?
A resposta para todas as questões acima, evidentemente, é um grandioso e sonoro não. O que Jesus evidentemente está dizendo é que toda verdadeira bondade provém do Pai, e que toda bondade que não for imagem e expressão da Bondade do Pai não é verdadeira bondade.
Outro exemplo interessante, no mesmo sentido, é a passagem da Epístola aos Romanos (3,10), que afirma categoricamente: "Não há nenhum justo (no mundo); não há nem um sequer."
Mais uma vez, a linguagem superlativa, que tende às expressões generalizantes. Se não há nenhum justo no mundo, então como é que o Evangelho segundo S. Lucas (1,6) diz que Zacarias e Isabel, pais de S. João Batista, "eram ambos justos perante Deus, andando sem repreensão em todos os Mandamentos e preceitos do Senhor"? Além disso, o próprio Batista é chamado "varão justo e santo" (Mc 6,20). Há diversos outros exemplos, e também no Antigo Testamento encontramos as afirmações de que Noé e Jó, entre outros, eram justos.
Que fazer, então? Se a passagem de Romanos está correta, então as outras, que mencionam homens e mulheres justos, estão erradas? Ou teria S. Paulo Apóstolo se equivocado ao escrever aquela frase, e deveríamos então riscá-la de nossas Bíblias? Nem uma nem outra. A questão se resolve quando entendemos o que já demonstramos no início deste estudo: nem tudo o que se lê na Bíblia Sagrada deve ser entendido literalmente, e este é um dos motivos pelos quais o Senhor nos deu a Igreja, coluna e sustentáculo da Verdade (1Tm 3,15) para todo aquele que deseja segui-Lo, – porque é ela, a mesma Igreja, o Corpo do Cristo (1Cor 14-20), isto é, a continuidade histórica do Salvador no mundo. É por meio da Igreja, legítima autora (inspirada pelo Espírito Santo) e fiel depositária da Palavra de Deus (nas Escrituras e na Tradição, por ordem do Cristo), que podemos compreender a Mensagem que Deus tem para nós.
Encerrando definitivamente a questão
Retomando o tema central deste estudo, é preciso saber que na comunidade cristã sempre houve aqueles chamados de "pais" no sentido espiritual, exatamente porque fizeram de suas vidas expressão da Paternidade do Pai do Céu, Paternidade que sempre exprime amor, providência, acolhimento, misericórdia, cuidado.
Por fim, apesar de todo o exposto até aqui, também é possível demonstrar o erro de quem pensa que é proibido chamar a um ser humano de pai, porque somente Deus mereceria este título, do modo mais simples, grosseiro e óbvio: mostrando onde a própria Bíblia claramente o demonstra, como quando exorta os cristãos a chamaram seus pais humanos, simplesmente, de "pais". Ora, o texto sagrado diz: "Filhos, obedecei a vossos pais segundo o Senhor; porque isto é justo" (cf. Ef 6,1). Evidentemente, se não fosse permitido chamar a ninguém de Pai, senão exclusivamente Deus, a própria Bíblia não o faria.
No Antigo Tetamento, as Escrituras chamam Abraão de "Pai de uma multidão" de povos ou nações, sendo que no hebraico bíblico o nome do Patriarca possui este exato significado.
Mais ainda, S. Paulo mesmo se apresenta como pai espiritual dos fiéis que por meio dele foram convertidos:
“Eu vos escrevo como a filhos bem-amados. Ainda que tivésseis dez mil pedagogos em Cristo, não teríeis muitos pais, pois fui eu quem pelo Evangelho vos gerou em Cristo Jesus." (1Cor 4,14-15)
“Meus filhos, por quem eu sofro de novo as dores do parto, até que Cristo seja formado em vós.” (Gl 4,19)
Também S. João, na sua Epístola, chama frequentemente os cristãos aos quais se dirige de "filhinhos". Vemos assim que ele se considerava pai espiritual da comunidade a que se dirigia.
O que transparece claramente de toda esta realidade é que toda e qualquer paternidade na comunidade cristã deve ter como Fonte, Modelo e Expressão, a Paternidade de Deus. Qualquer outro tipo de paternidade espiritual é idolátrica e sacrílega; é blasfêmia contra o Nome do Pai, que Jesus revelou vivendo como Filho perfeito.
Além disso, ainda que alguns exerçam na comunidade uma função de paternidade, essa função tem como alicerce e fundamento uma outra: a relação de fraternidade, já que fomos feitos todos filhos do Pai do Céu e assim somos todos irmãos. O presbítero, o padre, tem uma paternidade espiritual em relação aos fiéis católicos, mas, antes disso, é também seu irmão em Cristo; antes de ser padre é cristão. Esta é a relação fundamental. Nossa dignidade primordial é sermos cristãos, irmãos em Cristo Jesus. Antes de qualquer paternidade em Cristo, vem a fraternidade recebida como Graça no santo Batismo.
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Ref.:
Artigo "Não chamar a ninguém de pai", de Dom Henrique Soares da Costa, disponível em:
https://domhenrique.com.br/index.php/perguntasdo-internauta/715-nao-chamar-a-ninguem-de-pai
Acesso 26/3/015
Fonte: https://pt.aleteia.org/2019/07/01/o-que-a-palavra-padre-significa-e-onde-ela-esta-na-biblia/
Veja mais:
Chamar o sacerdote de padre (pai) contraria a Bíblia?
https://www.ofielcatolico.com.br/2005/03/chamar-o-sacerdote-de-padre-pai.html