“Bem-aventurados os pobres em espírito, porque deles é o Reino dos Céus”. (Mt 5,3).
O que adianta ser muito rico de bens materiais e ser pobre de espirito? De que vale tanta riqueza e vim perder sua alma? Será que realmente o ser pobre é não ter o material ou o espiritual?
A Bíblia tem muito a dizer sobre ser pobre, e temos muitos exemplos de pessoas pobres nas Escrituras. Visto que a riqueza material não é uma indicação segura da bênção de Deus, ser pobre não é necessariamente um sinal da desaprovação de Deus. De fato, é possível ser pobre em coisas materiais, mas rico em coisas espirituais (veja Apocalipse 2,9).
Claro, às vezes ser pobre é resultado de más escolhas. A Bíblia adverte que a preguiça levará à pobreza: “Um pouco de sono, um breve cochilo, braços cruzados para descansar, e a sua pobreza virá como um ladrão, a miséria atacará como um homem armado” (Provérbios 24,33–34; cf. 6,11). Seguir sonhos loucos também levará à pobreza: “O que lavra a sua terra terá pão em abundância, mas quem corre atrás de coisas sem valor se fartará de pobreza” (Provérbios 28:19), assim como deixar de seguir o sábio conselho: “Pobreza e vergonha sobrevêm ao que rejeita a instrução, mas o que aceita a repreensão será honrado” (Provérbios 13,18).
Em outros lugares, a Bíblia retrata os pobres como abençoados, e muitos ricos são vistos de forma negativa. O próprio Jesus era pobre, não tendo uma casa ou um “lugar para reclinar a cabeça” (Mateus 8,20). Os discípulos e a maioria dos seguidores de Jesus eram pobres, pelo menos em termos mundanos, mas ricos em riqueza espiritual. Os discípulos até deixaram tudo o que tinham para segui-lo, abrindo mão de tudo o que possuíam, colocando toda a sua confiança nEle para prover tudo de que precisavam. Jesus disse que os pobres sempre estariam conosco (Mateus 26,11). Não há vergonha em ser pobre. Nossa atitude deve ser a do escritor de Provérbios que disse: “... não me dês nem a pobreza nem a riqueza; dá-me o pão que me for necessário” (Provérbios 30,8).
Os ricos são geralmente retratados negativamente na Bíblia. A própria riqueza é vista como um obstáculo para aqueles que desejam entrar no reino de Deus. Jesus declarou: “Como é difícil para os que têm riquezas entrar no Reino de Deus!” (Marcos 10,23), e Ele repetiu essa declaração no versículo seguinte. Por que Cristo fez uma declaração tão chocante? Porque os ricos tendem a confiar mais em suas riquezas do que em Deus. A riqueza tende a nos afastar de Deus.
A história do homem rico e Lázaro (Lucas 16,19–31) mostra a natureza temporária das riquezas. O homem rico desfrutou de grande luxo na vida, mas passou a eternidade no inferno por causa de sua ganância e cobiça. Lázaro sofreu as indignidades da extrema pobreza, mas foi consolado no céu para sempre. O próprio Jesus deixou Seu trono no céu para assumir a forma humilde de um homem pobre. Paulo disse a respeito dele: “Pois vocês conhecem a graça do nosso Senhor Jesus Cristo, que, sendo rico, se fez pobre por amor de vocês, para que, por meio da pobreza dele, vocês se tornassem ricos” (2 Coríntios 8,9).
O que significa ser pobre de espírito?
Ser pobre de espírito significa ser humilde e reconhecer sua dependência total de Deus. Quem é pobre de espírito sabe que precisa de mais de Deus. A Bíblia diz que o Reino dos céus pertence aos pobres de espírito.
Em uma de suas pregações mais famosas, Jesus disse que os pobres de espírito são bem-aventurados. “Bem-aventurado” significa feliz, ou abençoado. A bênção que os pobres de espírito recebem é o Reino dos céus (Mateus 5,3).
Jesus virou nossos valores do avesso. Muitas pessoas querem ser ricas e autossuficientes, sem depender de ninguém. Mas Jesus disse que o verdadeiro abençoado é o pobre de espírito! Somente quem encontra segurança em Deus receberá o Reino dos céus.
Ser pobre de espírito é entender que sozinho você é pobre (Salmos 40,17). Toda sua vida depende de Deus. Sem Ele, não há vida. Seu sustento e sua segurança não dependem apenas de seu esforço. Você precisa de Deus.
Ser pobre de espírito não significa rejeitar toda riqueza nem viver na miséria. Ser pobre de bens não garante pobreza de espírito. Ser pobre de espírito também não significa se odiar nem desprezar tudo que você é. Ser pobre de espírito é entender que tudo que você e que você alcança vem de Deus e depende inteiramente dele. A glória pertence a Deus, não a você.
Como ser pobre de espírito?
Para se tornar pobre de espírito, você precisa entender sua relação com Deus e ser humilde.
A Bíblia diz que Deus criou todas as coisas e que toda vida depende dele (João 1,3). Deus também nos dá o sustento que precisamos para viver. Todas as coisas necessárias para a vida vêm de Deus.
A salvação é outra coisa que depende inteiramente de Deus. Sozinho, você não consegue se salvar do pecado. Não há nada que você pode fazer para merecer ou “comprar” a salvação, porque você é pobre. Somente o sacrifício de Jesus, oferecido de graça, pode lhe salvar (Efésios 2,8-9).
Quando você entende que você é falho e necessitado e precisa de Jesus para lhe salvar de sua pobreza espiritual, você se torna pobre de espírito. Você deixa de confiar em si mesmo e põe sua confiança inteiramente em Deus. Assim, você descobre que tudo que você alcança vem de Deus, que lhe capacitou e ajudou em tudo.
Reconheça a Deus em todos os seus caminhos e dê a glória a Ele (Salmos 115,1). Na hora da dificuldade, procure primeiro a ajuda e a orientação de Deus e na hora da alegria agradeça a Ele. Assim, você se tornará pobre de espírito.
Em algum momento, como cristãos, devemos nos perguntar: o que realmente estamos fazendo aqui neste lugar temporário? Onde está o nosso coração (Lucas 12,34)? Estamos realmente negando a nós mesmos? Estamos realmente dando sacrificialmente como fez a pobre viúva (Lucas 21,1–4)? Seguir a Jesus é tomar a nossa cruz (Lucas 9,23). Isso significa literalmente dar toda a nossa vida a Ele, livre das coisas deste mundo. Na parábola do semeador, as riquezas são como “espinhos”: “O que foi semeado entre os espinhos é o que ouve a palavra, porém as preocupações deste mundo e a fascinação das riquezas sufocam a palavra, e ela fica infrutífera” (Mateus 13,22).
São esses espinhos, “as preocupações deste mundo” e a “fascinação das riquezas”, as ferramentas não tão sutis de Satanás, que nos afastam de Deus e de Sua Palavra. A Bíblia pinta para nós um contraste entre aqueles que são pobres, mas ricos em Cristo, e aqueles que são ricos, mas sem Deus.
Papa na catequese: ser pobre em espírito é ser livre para amar
“Bem-aventurados os pobres em espírito, porque deles é o Reino dos Céus”. (Mt 5,3). A primeira das bem-aventuranças foi o tema da catequese do Papa Francisco nesta quarta-feira, 5, na Sala Paulo VI. Na semana passada, o Santo Padre anunciou um novo ciclo de reflexões dedicado a esses ensinamentos.
O Pontífice começou explicando o significado de “pobres”: aqui não se trata simplesmente de uma pobreza material, mas de ser pobres em espírito. O espírito, segundo a Bíblia, é o sopro da vida que Deus comunicou a Adão, é a dimensão mais íntima, a dimensão espiritual, a que nos torna pessoas humanas, o núcleo profundo do nosso ser. Portanto, os “pobres em espírito” são aqueles que são e se sentem pobres, mendicantes, no íntimo de seu ser.
“Quantas vezes ouvimos o contrário! É preciso ser alguém, ser alguém… é disto que nasce a solidão e a infelicidade: se devo ser ‘alguém’, estou competindo com os outros e vivo na preocupação obsessiva pelo meu ego. Se não aceito ser pobre, sinto ódio por tudo aquilo que recorda a minha fragilidade”.
Digerir os próprios limites
O Santo Padre explicou ainda que, diante de si, cada um sabe que, por mais que faça, permanece sempre radicalmente incompleto e vulnerável. Cada um é vulnerável dentro, mas se vive mal rejeitando os próprios limites, ressaltou. “As pessoas orgulhosas não pedem ajuda porque querem se mostrar autossuficientes. Quantos precisam de ajuda, mas o orgulho lhes impede de pedir ajuda. E quanto é difícil admitir um erro e pedir perdão!
Francisco recordou que, quando dá um conselho aos recém-casados sobre como levar avante o matrimônio, diz três palavras mágicas: com licença, obrigado, desculpa. “Palavras que vêm da pobreza.” “Os casais me dizem que a terceira é a mais difícil, porque quem é orgulhoso não consegue pedir desculpa, tem sempre razão. Não é pobre”.
Cansaço de pedir perdão
Ao invés, o Senhor jamais se cansa de perdoar; somos nós que nos cansamos de pedir perdão. “O cansaço de pedir perdão é uma doença ruim”.
Pedir perdão, acrescentou o Papa, humilha a imagem hipócrita, mas Jesus recorda que ser pobres é uma ocasião de graça e mostra o caminho para sair desta angústia de se mostrar perfeito. Foi dado à humanidade o direito de ser pobres em espírito, porque este é o caminho do Reino de Deus.
“Mas se deve reiterar algo fundamental: não devemos nos transformar para nos tornar pobres em espírito, porque já o somos! Precisamos de tudo. Somos todos pobres em espírito, mendicantes. É a condição humana”.
Os reinos deste mundo caem
O Reino de Deus é dos pobres em espírito, mas há também os reinos deste mundo, feitos de pessoas com posses e comodidades. Mas são reinos que acabam. O poder dos homens, inclusive os maiores impérios, passam e desaparecem. “Mas vemos na televisão, nos jornais, governantes fortes, poderosos, mas caíram. Ontem eram, hoje não são mais. As riquezas deste mundo vão embora, também o dinheiro. O sudário não tinha bolsos. Nunca vi atrás de um cortejo fúnebre um caminhão de mudanças”.
Reina realmente quem sabe amar o verdadeiro bem mais que a si mesmo. Este é o poder de Deus. Cristo se mostrou poderoso porque soube fazer o que os reis da terra não fazem: dar a vida pelos homens.
“Este é o poder verdadeiro: poder da fraternidade, da caridade, do amor, da humildade. Isso fez Cristo. Nisto está a verdadeira liberdade. Quem tem os poderes da humildade, do serviço, da fraternidade, é livre.”
O Papa então concluiu: “Há uma pobreza que devemos aceitar, a do nosso ser, e uma pobreza que, ao invés, devemos buscar, aquela concreta, das coisas deste mundo, para ser livres e poder amar. Sempre buscar a liberdade do coração, aquela que tem raízes na pobreza de nós mesmos.”