Santo Expedito é muito popular, mas nem todos os fiéis atentam para a mensagem central de sua vida: não deixe para amanhã a mudança de vida que você deve fazer HOJE!
Ele foi um militar que viveu no século IV, e comandava uma legião de soldados do Império Romano. Ao conhecer a Boa Nova, desejou se converter, mas ficava adiando indefinidamente seu “sim” a Cristo. Afinal, ele sabia que se tornar cristão poderia lhe colocar em uma situação altamente perigosa, então sempre se abraçava a alguma desculpa para deixar esse passo para depois.
Finalmente, chegou o dia em que Expedito teve a coragem de vencer a tentação. Essa vitória foi simbolicamente representada, em sua iconografia, da seguinte forma:
um corvo emitindo o seu típico grasnido – CRAS, que em latim significa AMANHÃ. Representa Satanás sugerindo continuamente que Expedito deixasse sua conversão para o futuro;
o santo pisa no corvo, mostrando que venceu a tentação;
o santo ergue a cruz, que exibe a palavra HODIE – que significa HOJE.
Seguir o exemplo de Santo Expedito pode ser o fator decisivo entre a nossa salvação e a nossa condenação eterna. Quantas vezes nossa consciência nos acusa de algum erro, mas pensamos: “Sei que tenho que mudar isso, mas hoje não dá por isso e por aquilo. Quando a situação ficar mais favorável eu tomarei essa atitude”.
A tentação de adiar a conversão também foi sofrida por Santo Agostinho, como ele mesmo revelou:
Mas eu, adolescente desventurado em extremo, tinha chegado a pedir-te a castidade dizendo: “Dai-me a castidade e a continência, mas não agora."
- Confissões. VII, 7, 17
Há dois grandes problemas nisso: 1) quanto mais tempo permanecemos no pecado, mais acumulamos males e culpas, cujas penas geradas teremos que pagar até “o último centavo” (Mt 5,26); 2) o amanhã não existe, e não passa de uma possibilidade. Só temos o “hoje” para dizer sim ou não a Jesus. A verdade é que nem sabemos se estaremos vivos amanhã!
Multidões de jovens saudáveis morrem todos os dias no mundo. E como está escrito nos Evangelhos, o Supremo Juiz virá a nós como um ladrão, de surpresa, no dia em que menos esperarmos (Mt 24,32-34).
Ao falar em conversão, não estamos simplesmente nos referindo à decisão de se declarar católico, mas sim de viver o cristianismo em espírito e verdade, em todos os aspectos da nossa existência – sem deixar nada, nada de fora.
Se nos dizemos católicos e, de forma consciente, não deixamos que Cristo toque em algo da nossa vida, passamos cada vez mais a viver uma vida dupla, como alerta o Papa Francisco:
“A vida dupla provém do seguir as paixões do coração, os pecados mortais que são as feridas do pecado original. (...)
“A todos nós, a cada um de nós, fará bem, hoje, pensar se há algo de vida dupla em nós, de parecer justos. Parecer bons fiéis, bons católicos, mas por baixo fazer outra coisa; se há algo de vida dupla, se há uma confiança excessiva: O Senhor me perdoará tudo. Então, continuo. Ok! Isso não é bom. Irei me converter, mas hoje não! Amanhã. Pensemos nisso. Aproveitemos da Palavra do Senhor e pensemos que o Senhor nisso é muito duro. O escândalo destrói.”
- Papa Francisco. Homilia na Casa de Santa Marta. 23/02/2017
Santo Expedito, nos ajude a vencer a tentação de adiar a nossa conversão. Enche nosso coração de amor e coragem, ilumine a nossa inteligência, para que possamos rejeitar as artimanhas do Maligno. Amém!
É possível se converter “aos pouquinhos”?
Nenhum católico teria dificuldade em admitir que a conversão é um processo diário e que “é uma luta a vida do homem sobre a terra”. Mas e os pecados mortais?! Dá para ir largando aos poucos? Nesta aula, Padre Paulo Ricardo propõe alguns princípios para quem quer mudar de vida, mas não sabe por onde começar.
A conversão pode ser compreendida em dois níveis. Se se trata da busca pela santidade, então é um caminho lento e gradual, que precisa ser trilhado todos os dias, com perseverança e o auxílio da graça de Deus. Somente almas eleitas já praticamente nascem nas mais altas moradas da perfeição cristã. Mas se por conversão se entende o abandono dos pecados mortais, neste caso, deve ser algo total e imediato.
O pecado mortal destrói a caridade na alma humana. Trata-se verdadeiramente de uma morte espiritual, que só pode ser remediada mediante o arrependimento, a Confissão e o firme propósito de nunca mais cometer esses crimes ou outros de igual gravidade. Não é possível viver na paz de Deus estando em pecado mortal, assim como não é possível viver meio morto, porque não existe semimorto: ou se está vivo, ou se está morto. Assim diz o Catecismo da Igreja: “O pecado mortal, atacando em nós o princípio vital que é a caridade, torna necessária uma nova iniciativa da misericórdia de Deus e uma conversão do coração que normalmente se realiza no quadro do sacramento da Reconciliação” (n. 1856).
Todo pecado mortal acontece quando, consciente e livremente, se ataca um dos Mandamentos. Na verdade, a pessoa substitui o Criador pela criatura (dinheiro, pessoas, jogos, sexo etc). A pessoa vira as costas para a fonte do seu ser, isto é, Aquele pelo qual ela existe. Daí a gravidade dessa ação e a sua consequente mortalidade. São João distingue duas espécies de pecados: os que levam à morte (mortais) e os que não levam à morte (veniais). “Se alguém vê seu irmão cometer um pecado que não o conduza à morte, reze, e Deus lhe dará a vida; isto para aqueles que não pecam para a morte. Há pecado que é para morte; não digo que se reze por este” (1Jo 5, 16-17). Embora não levem diretamente à morte, os pecados ditos “veniais” também ofendem a Deus, e pavimentam o caminho para a perdição.
Não resta dúvida de que o pecado mortal é algo abominável, com o qual nenhum cristão pode sobreviver. E não é preciso ser nenhum sábio para chegar a essa conclusão, pois Deus já nos revelou tudo. Basta a fé. O verdadeiro católico, portanto, deve acolher a Revelação como um todo, buscar sempre a necessária confissão dos seus pecados, tomando a firme resolução de nunca mais pecar. Por isso, uma conversão só acontece quando se tem a intenção genuína de se largar todos os pecados mortais.
A dificuldade que muitas pessoas encontram para se converterem deve-se à falta de propósito. Algumas fórmulas do ato de contrição fazem o desserviço de dizer que a pessoa “deve esforçar-se para não mais pecar”, como se já estivesse determinada a provável queda posterior. Mas nenhum marido diz à sua esposa: “Vou esforçar-me para não te trair outra vez”. De igual modo, como se pode dizer a Jesus: “Vou esforçar-me para não O crucificar outra vez”? Isso é blasfemo. Ou há o propósito de não mais pecar, nunca mais, ou não há conversão.
O arrependimento é um ato da vontade. Com a meditação das consequências do pecado, da paixão de Nosso Senhor, com muita oração etc., esse ato de vontade torna-se mais forte e decidido, de modo que a alma passa a detestar o mal, e ainda que volte a pecar, ela buscará o quanto antes a Confissão para retomar a vida outra vez. A determinação para as coisas de Deus é como um músculo que necessita de exercícios para ficar forte. E essa força só virá por meio da oração, da ascese e da fuga das ocasiões.
O importante é decidir-se pela vida da graça. Afinal de contas, Deus quer a nossa salvação.
Recomendações
Manual das Indulgências: normas e concessões (trad. CNBB). 3.ª ed., 1986.
https://padrepauloricardo.org/episodios/e-possivel-se-converter-aos-pouquinhos