Luciano, obrigada por nos dar uma força com suas palavras! Sobre a sua pergunta, a expressão “Igreja santa e pecadora” não é de todo errada, mas não vale a pena usá-la, porque dá asas para as viagens dos hereges de plantão e confunde os menos instruídos.
O principal motivo para evitarmos essa expressão é a caridade para com os irmãos que ainda engatinham no conhecimento sobre a doutrina. Muitos, ao ouvir “Igreja santa e pecadora”, podem cair nas armadilhas do relativismo reinante, achando que “já que a Igreja é pecadora, pode errar em seus ensinamentos, inclusive os dogmáticos”. E isso é uma ideia extremamente torta!
É prudente evitarmos usar uma expressão que dá tanta margem pra conclusões toscas...
Para entendermos melhor essa questão de “santa e pecadora”, vamos usar a imagem de São Paulo: a Igreja é um corpo, em que nós somos os membros e Jesus Cristo é a cabeça (Col 1,18; I Cor 12,27). Acaso em Jesus Cristo há mancha, há pecado? Certamente que não! E é Ele quem comanda o corpo.
E em que consistem tais comandos? Na doutrina da Igreja, é claro! Os comandos enviados pela cabeça são os ensinamentos sobre fé e moral que todos os católicos (membros do corpo) são chamados a crer e seguir. A doutrina da Igreja, portanto, é um porto seguro, é digna de toda a nossa confiança, pois não é uma doutrina humana; provém de Cristo.
Por isso, no Credo Niceno-constantinopolitano (aquele mais longo), rezamos “Creio na SantaIgreja Católica Una, Santa, Católica e Apostólica”; e não “Creio na Santa Igreja Católica Una, Santa e pecadora...”. Certo? E o Papa Paulo VI, em um documento do Concílio Vaticano II, deixou claro que a Igreja “é indefectivelmente santa”, ou seja, a crença em sua santidade é uma coisa certa, infalível (Lumen Gentium, 39).
O problema é que nem sempre os membros do corpo obedecem adequadamente aos comandos enviados pela cabeça. Assim, a Santa Igreja prega a caridade, o perdão, a castidade, a temperança... Mas quando seus membros estão doentes ou feridos – com a alma ferida pelo pecado –, falham em cumprir esses "comandos". Por isso, a Igreja é Santa, mas necessita ser sempre purificada, pois contém filhos pecadores em seu seio.
A santidade as Igreja é certa, porém, com nossos pecados, nós manchamos o corpo da Igreja. E quando um membro vai mal, todo o corpo sofre. Da mesma forma, quando um membro está sadio – são, isto é, SANTO – todo o corpo se beneficia disso!
Então, é fundamental que saibamos diferenciar a santidade DA Igreja (que é certa) da santidade NA Igreja (que é pessoal e nem sempre corresponde à santidade DA Igreja). Nesse sentido, a expressão “Igreja santa e pecadora” é uma faca de dois gumes: se, por um lado, tem seu fundo de verdade, por outro embaralha um pouco as coisas, pois não favorece a necessária distinção.
Até onde sei, o único Papa de toda a história que se referiu à Igreja como “santa e pecadora” foi o beato João Paulo II – e fez isso uma única vez. Já Bento XVI, sabendo bem da necessidade de colocar os pingos nos is, sempre disse “Igreja santa e composta de pecadores”. Nota 10!
Então, esta é a expressão mais adequada: “Igreja santa e composta de pecadores”.
Os fundamentos das afirmações desse post nós tiramos do documento “Memória e Reconciliação: a Igreja e as culpas do passado” (itens 3.2 e 3.3).