A Igreja sempre estimou as Sagradas Escrituras como fonte de fé e a reserva um lugar especiacialíssimo. A leitura pública da Bíblia sempre foi usada nas celebrações e nos Sacramentos, especialmente na Missa, tudo na vida da Igreja é voltado para as Sagradas Escrituras juntamente com a Sagrada Tradição, essas duas juntas, formam toda a fonte de fé revelada da Igreja.
O cuidado na leitura da Bíblia
Em determinadas circunstâncias históricas as autoridades eclesiásticas tiveram que a vigiar sobre o uso da Bíblia, especialmente na Idade Média.
A heresias dos Cátaros ou Albigenses, que abusavam da Bíblia, obrigou os padres dos concílios regionais de Tolosa (1229) e Tarragona (1234) a proibir provisoriamente aos cristãos a leitura da bíblia, para não serem enganados. Mas isso duro muito pouco tempo e se restringiu a leituras de textos vernáculos que não tivessem aprovações eclesiásticas.
O católico deve estar atento que estes dois concílios são os dois principais usados pelos hereges para dizer que a Igreja proibiu a leitura da bíblia. Devemos ter em mente que estes dois concílios são regionais, logo não tem efeito sobre toda a Igreja e se restringiram as regiões onde foram realizados, ou seja, a leitura na língua vernácula não foi permitida somente onde estava se propagando a heresia dos cátaros.
Pra refutar esta ideia protestante, vamos a alguns testemunhos de alguns autores protestantes, portanto acima de qualquer suspeita, que derrubam esta falsa tese criada pelo próprio protestantismo:
“O Catolicismo Romano tem um grande respeito pela Escritura como fonte de conhecimento. . . Na verdade, as declarações oficiais da Igreja Católica Romana sobre a inspiração e inerrância das Escrituras satisfariam o mais rigoroso fundamentalista protestante.” [1]
“Nunca houve um momento na história da Igreja ocidental durante a Idade ‘negra’ ou "Média", que as Escrituras fossem oficialmente rebaixadas. Pelo contrário, eles foram consideradas infalíveis e inerrantes, e foram mantidas na mais alta honra.” [2]
“Da mesma forma que os papas, Concílios, teólogos, sempre recorreram ao argumento bíblico como o realmente fundamental, a prática dos grandes escritores espirituais de todas as épocas atesta o caráter plenamente tradicional de uma devoção baseada na Bíblia. . . O mesmo aconteceu com os grandes mestres da Idade Média. . . Não só eles conheceram a Bíblia, e fizeram uso abundante dela, mas eles se guiaram nela como em um mundo espiritual que formou o universo habitual de todos os seus pensamentos e sentimentos. Para eles, não era simplesmente uma fonte, entre outras, mas a fonte por excelência, em um sentido único. . .
Não só com a aprovação da hierarquia, mas pela insistência positiva e enfática do próprio Papa, houve um retorno geral ao estudo minucioso das Escrituras, que foi restaurada, não só como base, mas como a fonte, de todos os ensinamentos da teologia.” [3]
Caso isso não fosse verdade, qual o interesse desses protestantes em mostrar que a Igreja sempre estimou e sempre insentivou o estudo das Sagradas Escrituras? Mais uma vez mostramos protestantes refutando as próprias mentiras protestantes.
Em 1408 o sínodo regional de Oxford, por causa dos erros de J. Wicleff, proibiu as edições da S. Escritura que não tivesse aprovação eclesiástica por que os hereges estavam novamente deturpando o texto sagrado.
Fica claro que a Igreja não proibiu a leitura da bíblia, mas a leitura de edições deturpadas da bíblia, como faz ainda hoje. Já postamos algumas matérias aqui no site que podem ser lidas aqui (Sola Scriptura Adulterada), onde mostramos as várias deturpações que ocorrem nas edições protestantes. Se hoje com todas as fontes de informações, facilidades de várias versões e e os textos gregos e hebraicos amplamente divulgados já acontecem essas adulterações e deturpações, imagine em um tempo onde pouquíssimos sabiam ler e poucos ainda sabiam traduzir um texto. Não foi corretíssima essa atitude dos bispos no intuito de preservar os fiéis dessas aberrações?
Estas medidas nunca visaram impedir a propagação das Sagradas Escrituras. Por exemplo, na Alemanha, o primeiro livro a ser impresso da História foi uma Bíblia, que foi impressa por Gutenberg, e foi a bíblia em 2 volumes (1453-1456). Até 1477 saíram cinco edições da bíblia em alemão; de 1477 à 1522 houve nove edições novas (sete em Ausburgo, uma em Nurenberg e uma em Estrasburgo); de 1470 a 1520 apareceram 100 edições de “plenários”, ou seja, livros que continham as epistolas e os evangelhos de cada domingo. Isto mostra de forma claríssima como a Igreja estava longe de querer, a proibição da leitura da bíblia.
Na Itália, houve mais de 40 edições da Bíblia antes da primeira versão protestante aparecer, começando em Veneza em 1471 e 25 delas foram traduzidas em italiano antes de 1500, com a autorização expressa de Roma. Na França haviam 18 edições antes de 1547, a primeira foi impressa em 1478. A Espanha começou a publicar edições no mesmo ano, e emitiu Bíblias com a plena aprovação da Inquisição espanhola (é claro que dificilmente se pode esperar que os protestantes acreditem nisto). Na Hungria, até o ano de 1456, na Boêmia no ano de 1478, na Flandres antes de 1500, e em outras terras, sobre a jurisdição de Roma, sabemos que as edições das Sagradas Escrituras tinha sido dadas largamente ao povo. Em suma de 626 edições da Bíblia, 198 eram em língua vernácula, e haviam sido emitidas a partir da invensão imprensa, com a sanção e aprovação da Igreja, nos países onde ela reinou suprema, antes da primeira versão protestante das Escrituras sonhar em ser traduzida. O que, então, torna-se uma ilusão patética, as argumentações protestantes de que o herege Lutero proporcionou alguma coisa para o mundo em relação a bíblia. (GRAHAM, 1939)
No século XVI, quando Lutero e os seus discípulos fizeram da Escritura a “única fonte de fé”, donde manipulavam e retiravam suas inovações doutrinárias, os bispos da Igreja Católica novamente foram obrigados a tomar medidas necessárias para que o povo católico não fosse enganado pelas novas edições da Bíblia protestante. Por exemplo, Lutero quando traduziu a Bíblia para o Alemão, acrescentou várias palavras que não se encontravam no original grego como em Romanos 3, 28, em que ele diz que o “homem é justificado somente pela fé”: a palavra somente não se encontra no original grego. Esta palavra foi acrescentada para fundamentar os seus delírios e sua incompreensão da obra salvifíca divinda, alterando assim a Palavra de Deus. O texto grego nos mostra:
Λογιζόμεθα οὖν πίστει δικαιοῦσθαι ἄνθρωπον (Rom 3, 28)
Em nenhum lugar vemos a palavra somente, que no grego seria μόνον, presente no texto. De fato o homem é justificado pela fé, mas não somente por ela, São Tiago vem nos mostrar que as boas obras também nos justificam:
“Vedes então que o homem é justificado pelas obras, e não somente pela fé.” (Tiago 2, 24)
A bíblia refuta sumariamente a tradução falsificada de Lutero, bem como a sua doutrina de Justificação somente por fé. Esta mesma passagem de Tiago, levou Lutero rejeitar também este livro por ser incompatível com sua doutrina, assim como ele fez com vários outros livros ao seu bel prazer.
Isto obrigou a Igreja Católica a restringir o uso das versões bíblicas vernáculas não autorizadas. Por isso, o Papa Pio IV, em 24 de Março de 1564, a bula “Dominici grecis” (Regra 4ª), determinou que o uso de traduções vernáculas da Sagrada Escritura ficava reservado aos fiéis a juízo do respectivo bispo ou de algum oficial com o proveito, para a sua fé e piedade. Em Portugal, os reis católicos, fiéis à Igreja, já haviam antecipadamente tomado essas medidas. (AQUINO, 2009)
As restrições eram apenas para as traduções vernáculas, ficando o texto latino da vulgata de uso livre para todos os fiéis. Não há dúvida, no século XVI, período de confusão religiosa e de inovações protestantes, mais ou menos subjetivas, a leitura da bíblia podia construir perigo para os fiéis não preparados.
Após esta fase, os Papas voltaram a estimular a leitura da Bíblia. Pio VI (1775-1799) escreveu ao arcebispo A. Martini, editor de um tradução italiana do texto bíblico, numa época em que os católicos ainda hesitavam sobre a oportunidade de tal obra:
“Vossa excelência procede muito bem recomendando vivamente à leitura dos Livros Sagrados, pois são fontes particularmente ricas, às quais cada um deve ter acesso. ”
São Pio X (1903-1914) em carta ao cardeal Casseta declarou :
“Nós, que tudo queremos instaurar em Cristo, desejamos com o máximo ardor que nossos filhos tomem o costume de ler os Evangelhos, não dizemos freqüentemente, mas todos os dias, pois é principalmente por este livro que se aprende como tudo pode e deve ser instaurado no Cristo… O desejo universalmente esparso de ler o Evangelho, provocado por vosso zelo, deve ser secundado por Vós, na medida em que se aumentar o número dos respectivos exemplares. E Oxalá jamais sejam propalados sem sucesso! Tudo isso será útil para dissipar a opinião de que a Igreja se opõe à leitura da Escritura Sagrada em língua vernácula ou lhe suscita alguma dificuldade” (Revista PR, Nº 11, Ano 1958, Página 452).
Muitas outras citações poderiam ser aqui colocadas. Se o leitor desejar mais algumas provas é convidado a ler o documento do Vaticano II "Revelação Divina", e as encíclicas papais de Leão XIII (1878-1903): "Sobre o estudo da Sagrada Escritura" (Providentissimus Deus - 1893), e Pio XII (1939-1958): "Promoção de Estudos Bíblicos" (Divino afflante Spiritu - 1943). Estes são encontrados às vezes no início de Bíblias católicas, e pode ser facilmente localizados na internet e no site Oficial do Vaticano.
Uma pergunta que todo católico precisa saber responder
Como foi feita a divisão da Bíblia em capítulos e versículos? Nos livros “originais” não havia separação entre as palavras, nem vogais, sem sinais de pontuação, nem títulos para ajudar a localizar as passagens bíblicas.
A necessidade de dividir o texto sagrado surgiu especialmente para facilitar a leitura litúrgica.
Divisão em capítulos
Estêvão Langton, arcebispo da Cantuária, que havia sido chanceler da Universidade de Paris, fez a divisão do Antigo e do Novo Testamentos em capítulos, a partir do texto latino da Vulgata de São Jerônimo, por volta do ano 1226.
Da Vulgata, passou ao texto da Bíblia hebraica, ao texto grego do Novo Testamento e à versão grega do Antigo Testamento.
Ele estabeleceu uma divisão em capítulos, mais ou menos iguais, muito similar à que temos em nossas Bíblias impressas. Esta divisão se tornou universal.
Divisão em versículos
São Pagnino (1541), judeu convertido, depois dominicano, originário de Luca (Itália), dedicou 25 anos à sua tradução da Bíblia, publicada em 1527, e foi o primeiro em dividir o texto em versículos numerados.
Esta versão foi impressa em Lion. Era uma versão muito literal que constituiu um ponto de referência entre os humanistas da época, e foi reimpressa várias vezes.
Roberto Estienne, prestigioso impressor, realizou a divisão atual do Novo Testamento em versículos em 1551. Em 1555, fez a edição latina de toda a Bíblia.
Para os versículos do Antigo Testamento hebraico, ele utilizou a divisão feita por São Pagnino. Para os demais livros do Antigo Testamento, elaborou uma própria e utilizou para o Novo Testamento a que, poucos anos antes, ele mesmo havia realizado.
O recurso de dividir o texto bíblico em capítulos e versículos numerados permite, desde então, encontrar imediatamente uma passagem, seja qual for a paginação adotada por uma edição.
Esta é uma ferramenta fundamental para os pesquisadores, e para que todos possam ter uma mesma referência.
Bíblia impressa com capítulos e versículos
A primeira Bíblia impressa que incluiu totalmente a divisão de capítulos e versículos foi a chamada Bíblia de Genebra, publicada em 1560, na Suíça.
Os editores da Bíblia de Genebra optaram pelos capítulos de Stephen Langton, e versículos de Robert Estienne, conscientes da grande utilidade que teriam para a memorização, localização e comparação de passagens bíblicas.
Em 1592, o Papa Clemente VII mandou publicar uma nova versão da Bíblia em latim, para uso oficial da Igreja Católica, e nela se incluiu a divisão atual de capítulos e versículos.
Assim, no final do século XVI, os judeus, protestantes e católicos haviam aceitado a divisão em capítulos introduzida por Stephen Langton, e a subdivisão em versículos introduzida por Robert Estienne.
Desde então, estas divisões em capítulos e versículos ganharam aceitação como uma forma padronizada para localizar os versículos da Bíblia, e até hoje são aceitas universalmente.
BIBLIOGRAFIA
[1] BROWN, Robert McAfee, The Spirit of Protestantism, Oxford: Oxford Univ. Press, 1961, 172-173
[2] TOON, Peter, Protestants and Catholics, Ann Arbor, MI: Servant Books, 1983, 39)
[3] BOUYER, Louis, The Spirit and Forms of Protestantism, translated by A.V. Littledale, London: Harvill Press, 1956, 164-165
GRAHAM, Henry G. Where We Got the Bible, St. Louis: B. Herder, revised edition: 1939.
ARMSTRONG, Dave. Was the Catholic Church an Avowed Enemy of Scripture in the Middle Ages (or at any other time)? Disponível em : < https://socrates58.blogspot.com.br/2006/08/was-catholic-church-avowed-enemy-of.html> . Acesso em 23/04/2012.
AQUINO, Felipe. Ciência e Fé em Harmonia. São Paulo: Editora Cleofas, 2009.
PARA CITAR
RODRIGUES, Rafael. A Igreja católica proibiu a leitura da Bíblia? Disponível em <https://www.apologistascatolicos.com/index.php/apologetica/protestantismo/516-a-igreja-catolica-proibiu-a-leitura-da-biblia>. Desde 23/04/2012
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