
“Pobre Scott”, eu pensei, suspirando internamente. Os católicos o tapearam com seus argumentos engenhosos. Escutei atenciosamente sua fala a respeito da Última Ceia intitulada “o quarto cálice”, tentando com muito esforço detectar erros em seu modo de pensar. Porém, não consegui encontrar erro algum (a fala do Scott foi tão boa que eu plagiaria a maior parte no meu próximo sermão sobre comunhão).
Após os aplausos da audiência diminuírem, fui até a frente para ver se ele me reconheceria. Uma multidão de pessoas com perguntas o rodeava. Fiquei poucos metros distante dele e estudei sua face enquanto ele falava para o grupo de pessoas, com seus típicos charme e convicção. Sim, aquele era o mesmo Scott que conheci no seminário. Agora ele usava um bigode e eu uma barba de estação (significativa mudança em relação aos nossos cortes limpos dos dias de seminário). Mas quando ele se virou para minha direção, seus olhos brilharam enquanto ele me cumprimentava silenciosamente com um largo sorriso. Logo ficamos próximos, nossas mãos se juntaram num caloroso aperto de mãos. Ele pediu desculpas caso tivesse me ofendido de alguma forma. “Não, claro que não!”, assegurei enquanto ríamos com o prazeroso desvio de curso que nos permitiu encontrar um ao outro novamente.
Antes de sair, fiquei em pé ao fundo da igreja, olhando por um momento os ainda incomuns e atrativos símbolos do catolicismo: ícones e estátuas, ornamentos do Altar, velas, cabine de confessionário. Fiquei lá por algum tempo imaginando porque Deus havia me chamado para aquele lugar. Então eu caminhei para a noite de ar frio, minha cabeça estava atordoada e meu coração inundado com a confusa mistura de emoções. Fui a um restaurante fast food, peguei um hambúrguer para a minha viagem de retorno a casa, e coloquei a fita com a gravação do Scott no toca-fitas. Presumi que facilmente eu descobriria em que ponto ele teria cometido o erro. Estava a metade do caminho de casa, todavia passei a ficar tão dominado pela emoção que tive de sair da rodovia para limpar minha mente.
Eu estava assustado e instigado pelo pensamento de que Deus poderia estar me chamando para dentro da Igreja Católica. Orei por algum tempo, com minha cabeça apoiada sobre o volante. Reuni meus pensamentos antes de ligar o carro novamente. Em seguida dirigi para casa.
Apesar de todas essas coisas boas que estávamos encontrando na Igreja Católica, também nos deparávamos com algumas situações confusas e perturbadoras. Encontrei padres que acharam estranho eu considerar a possibilidade de me converter à Igreja Católica. Eles achavam que a conversão seria desnecessária. Nós conhecemos católicos que sabiam pouco a respeito da fé católica e cujos estilos de vida conflitavam com os ensinamentos morais da Igreja. Quando nós participávamos das Missas, nos sentíamos malquistos e desassistidos por todos. Todavia, apesar desses obstáculos no caminho para a Igreja, continuamos estudando e orando para que o Senhor nos guiasse.
Nós acreditávamos que a orientação do Espírito Santo era suficiente para guiar qualquer pessoa que estivesse sinceramente procurando pelo significado verdadeiro das Escrituras Sagradas. A resposta católica para esse ponto de vista é que a missão da Igreja é ensinar com certeza infalível. Cristo prometeu aos Apóstolos e a seus sucessores: “Quem vos ouve a Mim ouve, quem vos rejeita a Mim rejeita, e quem Me rejeita, rejeita Aquele que Me enviou.” (Lucas 10,16).
"Quando, por conseguinte, nós temos tais provas, não se faz necessário buscar entre os outros a Verdade, a qual é facilmente obtida por meio da Igreja. Os Apóstolos, como homem rico em um banco, guardaram nela tudo de mais abundante que pertence à Verdade; e todos, quem quer que seja, tiram dela a bebida da vida. Ela é a entrada para a vida, enquanto todo o resto são ladrões e assaltantes. Por isso que seguramente é necessário evitá-los, enquanto cuida com máxima diligência das coisas pertencentes à Igreja, e se agarra à tradição da verdade. O que fazer então? Caso haja uma disputa sobre algum tipo de questão, não devemos recorrer às igrejas mais antigas, nas quais os Apóstolos eram íntimos, e obter deles o que é claro e certo em relação àquela questão? O que aconteceria se os Apóstolos não tivessem de fato deixado documentos escritos para nós? Não seria necessário seguir a ordem da tradição, a qual foi transmitida para aqueles a quem eles confiaram às igrejas?" (Contra as Heresias, 3, 4,1)
Após nove meses aguardando, nós soubemos que a nulidade do primeiro casamento da Marilyn foi reconhecida(!). Sem mais atrasos, nosso casamento foi abençoado, e nós fomos recebidos com grande entusiasmo e celebração dentro da Igreja Católica(!). Era um sentimento tão inacreditavelmente bom de finalmente estar no lar ao qual pertencíamos. Chorei silenciosas lágrimas de alegria e gratidão naquela primeira Missa, quando pude caminhar adiante com os demais irmãos e irmãs católicos para receber Jesus na Sagrada Comunhão.
Penso ser importante mencionar mais um dos pensamentos do abençoado John Henry Newman, que fez uma diferença crucial no meu processo de conversão para a Igreja Católica. Ele, uma vez, bem observou: “Ir fundo na história é deixar de ser protestante”. Essa linha resume o motivo principal pelo qual eu abandonei o protestantismo, colocando de lado as Igrejas Ortodoxas do Oriente, e me tornado católico. Newman estava certo. Quanto mais leio a História da Igreja e as Escrituras, menos poderia permanecer confortavelmente protestante. Enxerguei que a Igreja Católica é que foi estabelecida por Jesus, e todas as outras que reivindicam o título “verdadeira igreja” deviam se colocar de lado e dar passagem. Foram a Bíblia e a História da Igreja que fizeram de mim um católico, contra a minha vontade (pelo menos no início) e para minha imensa surpresa.
Eu também aprendi que o outro lado do ditado de Newman é igualmente verdadeiro: parar de ir fundo na história é tornar-se protestante. Por isso nós católicos temos de conhecer por que nós acreditamos nos ensinamentos da Igreja, assim como conhecer a história por trás dessas verdades sobre a nossa salvação. Nós temos que nos preparar e a nossos filhos tal que nós possamos “sempre estar prontos a dar razão da nossa esperança a todo aquele que vo-la pede” (1Pd 3,15).
Vivendo corajosamente e proclamando A nossa fé, muitos irão escutar Cristo falar através de nós e serão trazidos ao conhecimento da Verdade em toda a sua plenitude na Igreja Católica. Deus abençoe você em sua própria jornada de fé!
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