Os pais lutaram nos tribunais pelo direito de ao menos tentar um tratamento nos EUA - mas a "justiça" europeia negou
Os aparelhos que mantêm vivo o bebê britânico Charlie Gard, que sofre de uma doença rara, vão ser desligados. Charlie Gard foi simplesmente sentenciado à morte.
Definido o local onde Charlie Gard vai morrer
Após três meses de uma longa e revoltante batalha, o caso é considerado "concluído"
Após uma longa tratativa, os pais de Charlie Gard e o Great Ormond Hospital chegaram a um acordo: a criança será transferida em breve a um hospital para doentes terminais, onde passará os últimos dias de sua vida ao lado dos pais, antes de serem desligados os aparelhos que o mantêm respirando.
O “último desejo” de Connie Yates e Chris Gard – para que seu filho pudesse morrer em casa – não pode ser atendido visto a impossibilidade de se encontrar um respirador artificial e uma equipe de médicos especializados que pudesse assisti-lo em casa.
Visto a gravíssima situação em que se encontra – reconheceram ambas as partes – a transferência para sua residência apenas causaria mais sofrimento.
Assim, após três meses e meio de batalha legal em quatro instâncias – Alta Corte, Corte de Apelação, Corte Suprema em Londres e Corte Européia de Direitos Humanos em Estrasburgo, e após um ulterior recurso à Alta Corte – o “Caso Charlie” foi considerado concluído.
Uma determinação do Juiz Nicholas Francis proíbe a imprensa de informar o nome do hospital para onde será transferida a criança e a data.
A decisão sobre quando os aparelhos serão desligados foi tomada a portas fechadas, depois que o juiz, a pedido da mãe, solicitou que o público e os jornalistas se retirassem do recinto da audiência.
“É uma decisão muito privada e dolorosa”, disse o advogado Grant Amstrong, que representa os pais.
O caso de Charlie não é um caso isolado, mas ganhou ampla repercussão. De fato, na Inglaterra existem 40 mil crianças nos hospitais entre a vida e a morte. Quatro mil delas morrem a cada ano.
O pequeno sofre de uma doença mitocondrial que provoca o enfraquecimento dos seus músculos e sérios danos cerebrais. Ele vinha recebendo suporte vital no Hospital Great Ormond Street, de Londres, mas os médicos “decidiram”, contra a vontade dos pais do bebê, que os aparelhos deveriam ser desconectados para “evitar um sofrimento inútil”.
Os pais de Charlie, Chris Gard e Connie Yates, pretendiam levar o filho aos Estados Unidos para um tratamento experimental e, decididos a dar a ele todas as chances possíveis de vida e cura, por mínimas que fossem, rejeitaram terminantemente a “sugestão” assassina dos médicos.
Em abril deste ano, a “justiça” britânica (entre aspas mesmo e com inicial minúscula mesmo, e bem minúscula) tinha autorizado o desligamento solicitado pelos médicos do hospital. Os pais de Charlie apelaram então ao Tribunal Europeu dos Direitos Humanos, em Estrasburgo. Em decisão provisória, a corte europeia ordenou que o hospital mantivesse o bebê em vida durante ao menos 3 semanas, até a sentença definitiva.
Mas Charlie, Connie e Chris perderam de novo.
A “justiça” europeia também escreveu o próprio nome entre aspas e com minúscula. Muito, muito minúscula.
Eles não foram autorizados nem sequer a levar o filhinho para casa.
“Prometemos ao nosso pequeno que o levaríamos para casa“, conta Connie.
Chris Gard acrescentou: “Queríamos lhe dar um banho, em casa, colocá-lo num berço onde ele nunca dormiu e isto nos foi negado. Sabemos em que dia o nosso filho vai morrer e não temos direito a nenhuma palavra sobre o que vai acontecer“.
“Não nos permitem escolher se o nosso filho vive, nem escolher quando e onde o Charlie morre. Charlie vai morrer amanhã [sexta-feira] sabendo que foi amado por milhares… Obrigado a todos“, completaram Connie e Chris.
Uma saga contra a cultura da morte e do descarte
Charlie tinha nascido saudável, em agosto de 2016, mas, aos 2 meses, foi internado com pneumonia por aspiração e seu quadro piorou muito rapidamente. Os pais iniciaram uma campanha de arrecadação de donativos para levar o bebê aos Estados Unidos. Graças à solidariedade concreta de dezenas de milhares de pessoas, eles angariaram mais de 1,5 milhão de euros (equivalente a mais de 5,5 milhões de reais).
Mas a “justiça” entre aspas e minúscula, primeiro a do Reino Unido, depois a da União Europeia, arrancou deles até o direito de tentar.
Todo o dinheiro angariado vai ser usado para fundar uma associação com o nome de Charlie, voltada a ajudar outras crianças que sofram da mesma condição rara – e, pelo menos no caso delas, salvar a vida.
Indignação e preocupação profunda
Sim, é verdade que Charlie tinha pouquíssimas chances de cura. Sim, é verdade que, mesmo se pudesse tentar o tratamento experimental nos EUA, Charlie muito provavelmente acabaria morrendo. Não é esta a questão assustadora deste debate. A questão assustadora é que a palavra final sobre a vida ou a morte de um ser humano foi assumida de modo absolutista por tribunais que se sobrepuseram à vontade dos próprios pais do bebê “julgado”, à revelia da sua vontade de continuar lutando pela vida do filho com seus próprios recursos particulares. O Estado terá mesmo o direito de atropelar a vontade de um casal que deseja, quer e pode continuar lutando pela vida de um bebê, por mínimas que sejam as chances de cura? É intensamente assustador observar que o Estado se arrogou esse direito. Essa postura do Estado recorda inevitavelmente episódios obscuros da história da humanidade.
Incansavelmente denunciada pela Igreja, em explícitas declarações do Papa Francisco, a cultura do descarte avança brutalmente pelo autodenominado “mundo civilizado”, disfarçada de um sem-fim de eufemismos hipócritas que não conseguem esconder a ideologia criminosa que a sustenta: a ideia de que uma vida vale enquanto é útil, não em si mesma e com valor absoluto.
Em artigo de 12 de abril, já havíamos manifestado profunda indignação e preocupação diante de mais um golpe dessa cultura do descarte e da morte, desferido mediante a decisão ditatorial e assassina de uma “justiça” ideologicamente apodrecida:
Foi digna de uma ditadura absolutista a cena tétrica no Alto Tribunal da Inglaterra em que a família de Charlie recebeu com gritos de “Não!” a odiosa decisão do juiz Nicholas Francis, que teve o desplante de declarar que batia o seu martelo homicida “com a maior das tristezas”, mas, ao mesmo tempo, com “a absoluta convicção” de estar fazendo “o melhor para o bebê“. Nas palavras indignantes do representante dessa minúscula “justiça”, o pequeno sentenciado ao extermínio merece “uma morte digna”! No parecer do juiz, porém, essa “dignidade” não consistiria em lutar pela vida mediante um tratamento novo, mas sim em ser forçado à eutanásia, sem qualquer respeito sequer pela vontade dos pais de garantir ao filho até a mínima das chances de vida.
Pode haver algum indicativo mais gritante de ditadura assassina do que a intromissão do Estado na decisão de uma família que quer a VIDA do próprio bebê?
É nojenta, abominável, a hipocrisia com que se tentam disfarçar com termos “doces” e “empáticos” as formas monstruosas de pensar, falar e agir dos escravos da cultura de morte e descarte que rege o mundo “civilizado” em nossa época. Essa cultura, que pervade cada vez mais corrosivamente o âmago de todos os segmentos da vida social, acadêmica, política e econômica da nossa sociedade suicida tem sido denunciada inúmeras vezes e com força pelo Papa Francisco, o máximo expoente atual da cultura da vida e do encontro que caracteriza o autêntico cristianismo.
A estarrecedora metástase do câncer moral que apodrece por dentro e por fora a “sociedade civilizada” fede nas palavras do juiz, que teve a coragem de se dirigir da seguinte forma aos pais do bebê cujo assassinato ele acabava, impavidamente, de decretar:
“Quero agradecer aos pais de Charlie pela sua campanha valente e digna em nome dele, mas, principalmente, prestar homenagem à sua total dedicação ao seu filho maravilhoso desde o dia em que nasceu”.
Não consigo enxergar nenhuma possibilidade de ouvir uma declaração como esta, nesse contexto, sem sentir a força de um soco na cara e os ecos de uma gargalhada de deboche em cada sílaba dessa condenação.
Que grau de monstruosidade é necessário, consciente ou já subconscientemente, para sentenciar um bebê à morte e se dirigir com tamanha hipocrisia aos pais da sua vítima indefesa? Uma vítima que ainda tem uma chance a seu alcance!
A advogada da família de Charlie, Laura Hobey-Hamsher, resumiu os efeitos dessa sentença ditatorial e assassina declarando que os pais do bebê ficaram simplesmente “arrasados”.
O filho deles tem uma chance de vida! Mínima, ínfima, não importa: é uma chance e eles querem e têm o direito de abraçá-la com toda a força da sua esperança e do seu amor de pais!
QUEM pode se arrogar o “direito” de lhes negar essa chance? QUEM?
Devastadoramente, esta não foi primeira vez que um juiz da “civilizada” Inglaterra determinou o desligamento do suporte vital a um bebê apesar da expressa vontade dos seus pais de continuar lutando pela vida. Em 2015, a “justiça” inglesa, minúscula e entre aspas, se fez cúmplice do assassinato de uma menina que tinha sofrido danos cerebrais irreversíveis devido à falta de oxigênio durante o parto, ocorrido dentro de um automóvel.
Se a “justiça” realmente acredita que está fazendo “o bem” ao tomar esse tipo de decisão homicida, a situação, já abominável em si mesma, consegue se tornar ainda mais sombria, preocupante e assustadora. “Cega” nunca foi melhor adjetivo para descrevê-la.
Qualquer ser humano que tenha um pingo de sincero desejo de defender a vida tem a obrigação moral de se manifestar em alto e bom som diante dos ataques cada vez mais abertos das hordas da morte e do descarte. Por enquanto, o direito de protesto ainda não nos foi proibido. Por enquanto.
Esta nossa opinião, que continua a mesma e agora é acrescida de ainda mais estarrecimento, dor e indignação, pode ser lida neste artigo:
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